KULAYA: uma tradição milenar que mata as mulheres


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Kulaya:  uma tradição milenar que mata as mulheres
Hoje proponho-vos uma reflexão, sobre uma das cerimónias muito conhecida em África, KULAYA (educar para o “lar”), vou me focar na realidade Moçambicana.
Para quem não sabe, KULAYA é o ato de ensinar e/ou preparar a mulher para o lar. Sabe-se que as mulheres, desde criança, são confrontadas com enormes exigências no seio da família, pois, tudo o que a ‘menina’ fizer ser-lhe-á dito: “hizwezwe utuya wa maha hutatine?” traduzindo: “é isso que irá fazer no lar?
Em contrapartida, o homem não passa desse ‘julgamento’, ele é tido desde cedo como aquele que pode tudo, pode brincar, sentar como quiser, passear e ser livre.
Fala-se que nos tempos remotos, quando uma ‘menina’ sentasse ‘mal’, as mamanas levavam areia ou lenha ardente e, lhes lançavam entre as pernas, lembrando que naqueles tempos as mulheres eram proibidas de usar calças, ou calções, estas usavam saias ou capulanas[1]. As mulheres não podiam sentar nas cadeiras, sentavam na esteira, e quando esta houvesse, sentavam no chão, enquanto homens perfilavam a classe nas cadeiras.

Foquemos no KULAYA para o casamento,
Me inquieta o fato desta cerimónia ser destinada APENAS para as MULHERES, mesmo sabendo que o casamento[2] envolve a união do homem e da mulher. Não estou a pôr em causa os ensinamentos do KULAYA, aliás, considero muito fundamental, esta preparação, tendo em conta que casamento é uma união de pessoas que tiveram ensinamentos diferentes, em famílias diferentes, por isso, são suscetíveis a choques na convivência. Desta feita, KULAYA é uma prática que visa preparar as mulheres, de modo a fazer face a estes choques.
A minha preocupação prende-se ao de que o homem não é submetido ao KULAYA? Será que o homem sabe tudo, sobre como tratar uma mulher no casamento?

O MACHISMO em KULAYA
No dia do casamento, reserva-se um momento em que a noiva é levada a um espaço fechado, para ser LAYADA pela madrinha, suas tias e avós. E quanto ao noivo? Porquê não é LAYADO? É sobredotado em matéria de lar e bons tratos à mulher???
Quem vai ensinar a ele? As falhas, os erros, a ignorância? A estupidez? O consumo exacerbado dos estupefacientes? Ou as noites perdidas entre as pernas e cinturas alheias? Não raras vezes em baladas, barracas, hotéis ou mesmo casas de uma noite, em que a cama só não grita repudiando a diversidade das pessoas que por lá passam por dia, devido a falta de voz.
KULAYA é um tradicionalismo que deveria mudar de estratégia, quero um KULAYA mais abrangente para homens, mulheres, pai dos nubentes ou recém-casados, visto que até então:
Ø  Ensina-se a mulher sobre como esta deve se comportar no lar e como deve tratar o marido, todavia, nada é ensinado ao homem, sobre como tratar sua esposa, e que comportamentos deve adotar no lar.
Ø  A mulher LAYADA sobre como tratar o marido, dá o seu melhor para que este seja feliz, se sinta honrado e respeitado.
Ø  O homem, tido desde cedo, o chefe e ‘detentor’ de tudo, no seio do lar, e perante a sua mulher faz asneiras, abusos (físicos, psicológicos, morais…) e absurdos em nome vazio que é a masculinidade.
KULAYA sim, mas que não seja discriminatório, excluindo os homens desses ensinamentos tão imprescindíveis, ao mesmo tempo que condena a mulher a uma posição tão subjugada. Queremos casamentos harmónicos, respeito mútuo, KULAYA para homens e mulheres.

#AMAVconselhos em parceria com a dra. Nasália 






[1] Capulana é um pano típico dos países africanos, em que as mulheres se embrulham nele, fazendo-se no lugar de saia ou calça. Atualmente, o uso da capulana modernizou-se, dela se faz camisas, calças, vestidos, e bolsas, malas, decoração de sapatos entre outros, sendo usado não só por mulheres mas também por homens de todas idades.
[2] Casamento heterossexual 

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